Era madrugada de 29 de dezembro de 2011, aproximadamente as 03:30 da manhã.
Não conseguia dormir.
Estava atormentado pela ansiedade advinda do fato de ser sabedor de alguns acontecimentos que seriam desencadeados no decorrer do dia como uma possível paralisação da Polícia Militar do Ceará e suas consequências. 
Horas antes chamei a minha mãe e contei o que ocorreria e suas consequência. Orei por minha querida filhinha Zaira e tentei dormir mas não consegui. Passei, então, a procurar entender quais fatores seriam motores para a construção deste cenário... dentre outras divagações.     

O fruto desta viagem insone foi este breve ensaio, postado no FACEBOOK da Ass. de Cabos e Soldados Militares do Ceará as 06:19 de 29 de dezembro de 2011, portanto, 12 horas antes da deflagração do Movimento Paradista da Polícia Militar do Ceará e do Corpo de Bombeiros Militares, que ficou conhecido como Movimento Ceará Vermelho.

CASA GRANDE E SENZALA NAS POLÍCIAS MILITARES

"A obra Casa-Grande & Senzala de Gilberto Freyre publicado 1933, nos mostra, pelo menos de forma emblemática, o arcaísmo da cultura comportamental e de gestão de recursos humanos que se estruturam as polícias militares brasileiras. A importância desta obra, embora criticada por muitos estudiosos, destaca o predomínio da Casa Grande como centro do poder - onde se alimenta, senta e arrota a elite -, e a senzala - onde sobrevive, acantona e se ouve os murmuros das dores da gentaça -, com a função social exclusiva de garantir o conforto da casa grande.
Esta organização social que se instalou no Brasil a partir da máscara do neofeudalismo das capitanias hereditárias, eminentemente patriarcal e ferozmente mercantilista, gerou o que seria convencionado como coronelismo e o cangaço, que ate hoje permeiam o imaginário dos príncipes do poder nordestino.
Desta herança, ainda hoje, sentimos as dores do parto mau parido de algumas instituições basilares da sociedade moderna como as polícias. As polícia militares do Brasil criadas no calor do pacto federativo da década de 1830, surgiram na qualidade exércitos provinciais. Após a Guerra do Paraguai adquiriu uma homogeinização, com o período do estado novo fora duramente controlada pelo Exército Brasileiro e, novamente, controlada a partir da ditadura militar de 64. 
Desta forma, até hoje, as polícias militares sofrem com o despotismo plantado no século XIX, onde todo o oficialato é educado sob a cartilha de Maquiável e evoca com eloquência o brilho de suas platinas como se fossem batizadas na "Investidura" por um rei em uma cerimônia da nobreza em uma lendária Cavalaria Medieval. Enquanto isso, a soldadesca herdeira dos negros alforriados (comprados pelo Fundo Escravista), mestiços, meninos e adolescentes criados em asilos, conventos e outros lugares de má sorte, estrangeiros desafortunados. Para estes à época bastaria um pai, um dono, um protetor ou o patriarca da terra brasileira colonial, o dono de tudo que nela se encontrasse como escravos, parentes, filhos, esposa, etc. Este domínio sobre os inferiores sobrevive culturalmente nas polícias militares do Brasil silenciosamenta como um caixão com ossos que gritam por justiça social.
Até o final da década de 1980, não havia concurso para soldados na Polícia Militar do Ceará e tantas outras do Brasil, pois o modelo, ainda era o de alistamento (inscrição ou recrutamento) e aos oficiais o acesso por sorte de apadrinhamento por parentesco, política e uns poucos por mérito intelectual, tudo mascarado em forma de concurso.
Com a Constituição Democrática de 1988, este lapso moral não foi reparado de maneira a incorporar e fortalecer tais elementos segregadores e não de excluí-los. O suplício moral da expulsão e cerceamento da liberdade ainda é praticado como forma punição entre os militares que cometem crimes administrativos-disciplinares. É importante lembrar que o castigo físico e o banimento foram abolidos no meio militar muito tempo depois, que na sociedade civil (Michel Foucault, Vigiar e Punir). Bem como a privação da liberdade, enquanto na atualidade a sociedade debate as penas alternativas de caráter inclusivo e social, os policiais militares são trancafiados atrás das grades como bandidos de alta periculosidade por penas administrativas disciplinares, como buscar uma melhoria de vida pra sua família!
Organizada em dois corpos distintos - Oficiais e praças - as policias militares brasileiras estão fadadas a encruar-se por não possibilitarem a mobilidade social ou mesmo a inovação. No atual paradigma encontramos o oficial ("aquele que tem a carta do ofício"), por mais incompetente que seja, ter a certeza que SEMPRE chegará ao apogeu da carreira se for "politicamente educado" (lê-se: subordinado ou subserviente) e a praça (aquele que espera na praça de guerra por um dia de soldo - paga de sal) por mais competente que seja, por melhores títulos tenha alcançado (graduação, mestrado, doutorado) ele tem a certeza de que NUNCA vai chegar lá. Dessa forma, o Estado perde capital intelectual para outras instituições ou mesmo a iniciativa privada.

QUE POLÍCIA NÓS QUEREMOS, JÁ QUE NÃO SOMOS MAIS JAGUNÇOS!
É POSSÍVEL MUDAR!?
  • Em 1884 contrariando os interesses da elite Francisco José do Nascimento, mestiço de Canoa Quebrada, Aracati, Ceará, passa a ser conhecido como Dragão-do-mar ou Chico da Matilde, abolicionista brasileiro, chefe jangadeiro e participante do Movimento Abolicionista Cearense. Eles e seus colegas se engajaram à luta já em 1881, recusando-se a transportar para os navios negreiros, os escravos vendidos para o Sul do País.
  • Em 1910 o marinheiroJoão Cândido Felisberto, liderou uma rebelião de cerca de 2400 marinheiros contra a aplicação de castigos físicos a eles impostos (as faltas graves eram punidas com 25 chibatadas), ficou conhecido como o Almirante Negro.
  • No início da década de 1920 um grupo de jovens oficiais de baixa e média patente do Exército Brasileiro no início da década de 1920, descontentes com a situação política do Brasil, propunham reformas na estrutura de poder do país Tenentismo foi o nome dado ao movimento político-militar e à série de rebeliões, uma de suas consequencias preparou o caminho para a Revolução de 1930, que alterou definitivamente as estruturas de poder no país. Entre elas: o Capitão Hermes da Fonseca Filho, o Tenente Eduardo Gomes, o Tenente Siqueira Campos entre outros. Na Marinha do Brasil se destacaram os tenentes Protógenes Pereira Guimarães, Ernani do Amaral Peixoto e Augusto do Amaral Peixoto.aceedyra

ELES ACREDITARAM!!!"


José de Abreu
Dir Cultural ACSMCE